Menina

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Já era madrugada e Jesus ainda arriscava passos de salvador.
Pisando com cuidado e suavidade, viu uma menina que chorava lágrimas sem origem. Elas vinham de dentro, mas na imensidão da alma pareciam vir de lugar nenhum. E era um choro dolorido, quase silencioso, quase invisível. Ele então se fez mais perto, tocou em seus olhos e sugeriu pálpebras pesadas. E foi no fechar dos olhos, que segurando em suas mãos, ele a levou para o coração do seu Pai. Foi então que o choro ganhou volume e aquela menina fez pranto antigo.
A alma gritou com força.
A medida em que a água saia dos olhos cansados, Jesus não desperdiçava, mas refazia em rio.
Ela queria um abraço, não disse, mas queria, e ele sabia.
Só que ele mesmo não abraçou.
Pegou emprestado abraços de irmãos seus.
Multiplicou.
Aquecida, a menina soltou um suspiro de alívio.
Acompanhada, levantou e sorriu.
Olhou ao seu redor e viu outros olhos que também choraram a sua escuridão.
Se sentiu amada. Muito amada.
Não encontrou as respostas que ainda procura, mas descobriu afetos disponíveis. Entre melodias e em sussurros, pedia a ajuda de Deus.
Ele, atento, sussurrou também…

Pr. Daniel Bravo